terça-feira, 9 de outubro de 2007

Dom Quixote.

Estou correndo. Cansado. Com uma armadura pesada de metal. O som de ferro batendo em ferro e da minha respiração ofegante são as únicas coisas que podem se ouvir. Carrego uma espada numa das mãos e um escudo na outra. Corro me protegendo, tropeço, caio no chão, rolo e me arrasto para trás de uma casa. Tiro o elmo, ofegante, suado. Encosto a espada na parede da casa. Coloco parte do rosto para fora da proteção do muro, para ver se vejo se o que corre atrás de mim ainda está por lá. Nada vejo. Respiro aliviado. Olho para um balde de água, nele, meu reflexo.

- Eiii!! Do que você ta correndo?

Respiro fundo

- Como assim?! Você não viu o tamanho daquele monstro?

Ele só pode estar de brincadeira.

- Monstro? Você ta maluco... Não tinha nada lá cara. NADA!

Meu rosto se franze com raiva.

- Nada? Então por que eu estou correndo desse jeito?!

Passo a mão pelo rosto tirando o suor.

- Pelo mesmo motivo de sempre. Você ta vendo coisas grandes de mais onde não tem nada!!!

Eu desisto. Não é possível. Eu vi, eu juro que eu vi. Eu to até machucado. Esse cara acha que é último trakinas do pacote, não é possível. Ele estava lá comigo! Como pode me dizer que aquilo tudo não foi nada. Que não tem nada por lá. Que eu to me preocupando de mais com coisas bobas.

- Você não vê? Eu to todo machucado. Apanhei de mais.

Bato na armadura, ressaltando os amassados.

- Ah, é?! É claro que você ta machucado. É claro que você ta marcado. Você ta vendo uma coisa
onde tem outra. Está tentando passar da maneira errada.

Coloco metade do rosto pra fora de novo, só para checar que aquelas coisas não vieram correndo atrás de mim.

- Vendo coisa onde tem outra? Passar da maneira errada? Do que infernos você está falando?
Puxo minha espada para perto. Só para ter certeza.

- É sempre assim. Sempre que tem uma coisa no seu caminho você inventa de ver ela maior do que ela realmente é. Lembra daquele gato que você jurou de pé junto que era um Leão Gigante?

Levanto as sobrancelhas.

- Oras. Mas era! Um leão gigante... FILHOTE!

Quase sinto um tapa na minha cara.

- Imbecil!! Você sabe muito bem do que eu to falando. Se aquelas coisas que você viu fossem dragões de verdade, me explica por que ainda não vieram voando te matar aqui onde você está? Mesmo depois de você tentar bater neles inúmeras vezes.

Mordo o lábio inferior. Não sei o que responder.

- Eu... Eu não sei.

Começo a achar que ele tem razão.

- Pensa comigo. É sempre assim. É sempre alguma coisa maior. É sempre um obstáculo intransponível. É sempre uma desculpa para voltar correndo assustado. Droga! Vira homem, olha direito. Não é nada de mais.

Me levanto devagar, ainda um pouco cansado. Essa armadura pesa. Talvez ele tenha razão. Talvez essas coisas todas não sejam na verdade nada de mais. Eu sempre suspeitei. Mas nunca tive certeza. Talvez eu nem precise dessa armadura.

- Tudo bem... Pode ser que os Dragões sejam moinhos de vento.

7 comentários:

Madchester disse...

De vez em quando não bate uma vontade de dormir com a luz acesa. Só pra ter certeza de que os monstros não vão mais aparecer.

hehehe.

Anônimo disse...

É ti...mais dificil do que fugir dos nossos fantasmas é fugir dos fantasmas que criamos...Sei bem como é. Acho que você tem um dom de traduzir em palavras corretas o que sentimos de modo tão confuso. Você é uma linda luz pra mim Ti. Amo muito você. Apesar das guerras, nós sobrevivemos.

Francisco Casanova disse...

É rapaz, TODOS os problemas vêm de dentro pra fora.

Aquino disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Um comentário fútil: Adorei o ultimo trakinas do pacote!!!

E enqt isso eu fujo do Pyramid Head!

Mas qq coisa querido, eu te dou um abraço, é de graça!

Anônimo disse...

a parte do trakinas é a melhor hahahaha!
vou repetir..essa psicologia ta fazendo bem! hahaha

abraços

Anônimo disse...

Vejo dragões, mas sei q são moinhos.