sexta-feira, 4 de julho de 2008

Piano Bar

O Acusaram de não lutar. Arregalou os olhos atônito por alguns segundos e logo depois esbravejou.
Saiu batendo pé e praguejando toda sorte de xingamentos para todos... Todos que o acusavam.
Entrou no em seu quarto, tirou a camisa e parou de frente ao espelho. Hematomas, arranhões. Ele abaixou a cabeça e balançou negativamente.
Naquele momento parecia o maior absurdo que ele já tinha ouvido, dizer que ele não havia se esforçado. Mostrou o dedo médio na direção da porta fechada. Gesto meramente catártico, que embora ninguém pudesse ver e se sentir ofendido pelo mesmo, fazia com que ele se sentisse mais leve.
Bateu a porta do armário, e sentiu dores. O sangue estava esfriando e as pancadas que ele havia tomado, doíam mais agora. Isso só confirmava para ele, que os outros estavam loucos. Ele era o são. Ele tinha razão naquela coisa toda.
Foi tomar um banho, mancando. Tomou seu banho, demorou. Deu tempo para refletir sobre o que havia sido feito. Era um homem decente, calmo, racional. E devido a todas essas características resolveu pensar um pouco mais.
Não era possível que todos diziam uma coisa e só ele pensava outra. Raciocinou, mastigou as informações passadas, se criticou. Talvez ele pudesse ter dado mais dele mesmo.
Saiu do banho calmamente, caminhou pelo alojamento, sem camisa, com a toalha apoiada no pescoço. Passou por uma porta entreaberta e rapidamente olhou para dentro.
Foi então que notou uma cena que fez com que ele parasse para pensar. Um homem, daquele mesmo pelotão, deitado na cama com o controle remoto na mão, sem as pernas.
Caminhou para o quarto, bateu a porta e suspirou.

O Rádio tocava uma música.

Piano Bar - Engenheiros do Hawaii

o que você me pede eu não posso fazer
assim você me perde, eu perco você
como um barco perde o rumo
como uma árvore no outono perde a cor

o que você não pode eu não vou te pedir
o que você não quer eu não quero insistir
diga a verdade, doa a quem doer
doe sangue e me dê seu telefone

todos os dias eu venho ao mesmo lugar
às vezes fica longe, difícil de encontrar
mas, quando o bourbon é bom
toda noite é noite de luar

no táxi que me trouxe até aqui
Willy Nelson me dava razão
As últimas do esporte, hora certa, crime e religião
Na verdade nada
é uma palavra esperando tradução

toda vez que falta luz
toda vez que algo nos faltar
o invisível nos salta aos olhos
é um salto no escuro, da piscina

o fogo ilumina muito,
por muito pouco tempo,
em muito pouco tempo o fogo apaga tudo
tudo um dia, vira luz

toda vez que falta luz,
o invisível nos salta aos olhos

ontem à noite eu conheci uma guria
já era tarde, era quase dia
era o princípio
num precipício era o meu corpo que caia

ontem a noite, a noite tava fria
tudo queimava, nada aquecia
ela apareceu, parecia tão sozinha
parecia que era minha aquela solidão

ontem à noite eu conheci uma guria
que eu já conhecia
de outros carnavais com outras fantasias

ela apareceu, parecia tão sozinha
parecia que era minha aquela solidão