domingo, 29 de novembro de 2009

Deserto

Caminhou pelo deserto até não poder mais.

Suas coisas iam ficando para trás a medida que ele não podia mais carregá-las. Deixava uma trilha de tralhas e pegadas na areia que poderiam ser seguidas por qualquer pessoa que estivesse atrás dele. Mas não tinha ninguém atrás dele.

Caiu de frente. Bateu seu rosto queimado e rachado pelo sol contra a areia quente. Não se importou. Apenas fechou os olhos por reflexo e por não querer areia nos olhos. Nada mais justo, ele pensou, não querer areia nos olhos antes de morrer carbonizado. Ele quis se dar esse luxo.
Achou curioso, que nesse momento não passava na sua cabeça o filme da sua vida, mas sim uma espécie de futuro imaginado, que pode ser resumido em: “E se...”

Bufou... E com isso areia que estava perto de sua boca, tão ressecada quanto sua pele, voou pra frente. Inspirou devagar, bufou mais uma vez. Já de olhos abertos, soltou um sorriso triste enquanto via aquela areia voar por causa da respiração dele. Achou aquele fenômeno estranhamente interessante, e por isso estava triste. Ele precisava estar naquela situação para achar areia voando uma coisa interessante.

Moveu a mão devagar e foi deixando a marca na areia. Alcançou o que seria a última bolsa de couro que carregava, nesta não tinha muitas coisas, mas de lá ele tirou um papel dobrado, que poderia ser uma foto ou coisa parecida. Desdobrou com os dedos da mão e levou o papel até perto do rosto. Seus olhos baixaram até conseguir ver o que tinha no papel, ou parte disso. Sorriu triste mais uma vez. Fechou os olhos, largou os músculos. Talvez ele não devesse buscar aquilo. Sentiu o sol queimando seu rosto, seus braços, sua roupa começou a esquentar a pele... Era isso... Estava fadado a viver no deserto pelo resto da sua existência, nunca mais acharia campos verdejantes, comida em abundância, rios, árvores... Chuva...

- Chuva...

As palavras saiam de sua boca de maneira débil e limitada, não podiam ser ouvidas nem por ele e a única coisa que denunciava que ele tentava falar era aquela areia interessante que voava quando o ar saía dele.

Foi quando ele pode sentir. Aquela brisa mais fria e húmida passando por ele. Ele abriu os olhos na hora e pode ver a areia sendo levada em uma direção. Franziu o rosto, teve um pingo de esperança. Sentiu o sol ser fechado pelas nuvens, aliviando aquele castigo sobre ele, e quando ele juntava forças para olhar pra cima sentiu um único pingo acertar o rosto dele. – Chuva – Ele pensou.

E isso foi suficiente. Ele respirou fundo juntou o que sobrou de suas forças, se arrastou pela areia, levantou devagar. Cambaleou para a esquerda e depois para a direita. E quando conseguiu ficar de pé, com o máximo de equilíbrio que sua situação permitia, olhou pra cima, confiante e logo voltou a caminhar. Se era ou não um jogo de resistência ele não sabia, só sabia o que queria.