sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Carona.

Chovia tanto, que ele podia ver fileiras incessantes de água que escorriam de seu capuz amarelo. Por sorte comprara aquela capa de chuva no caminho. Sabia que ela seria necessária. Pensou em acender um cigarro, mas imaginou que este seria apagado pela chuva. Pensou em procurar abrigo, mas desistiu. Naquele dia cinza, ele estava no acostamento de uma estrada, sem nada por perto.

Olhou para esquerda e... Nada. Olhou para a direita e... Nada. Bufou desanimado, chutou o chão, franziu o rosto. Faziam horas que ele estava ali parado. Queria uma carona, mas não passava nenhum carro. Mantinha as mãos dentro da capa de chuva amarela e exagerada que vestia, queria se manter o mais seco possível. Os pés já estavam molhados e maldita calça jeans cismava em puxar a água para cima molhando as pernas dele aos poucos. Ele sabia que era uma questão de tempo até pegar um resfriado. Olhou para o chão ao seu lado e riu desanimado da mala que carregava. Esta jazia na chuva sem nenhuma cobertura, só se molhando, em péssimo estado, esperando para dar seu último suspiro e ser jogada no lixo mais perto. Mas nem isso havia por perto, nem uma lata de lixo.

Ele pensou em pegar mala pela alça e caminhar. Ficar parado não iria adiantar de nada. Mas tinha certeza de que a mala não iria sobreviver à uma caminhada. Imaginou a cena. A mala se despedaçando e caindo aberta no chão, seus poucos pertences indo embora com o vento pela estrada molhada. Ponderou e achou melhor ficar, afinal, já estava acostumado a ficar perdido em lugares nos quais não se importava ficar. Conformismo ou adaptabilidade... Preferia não pensar no assunto.

Olhou para o céu, a chuva encharcou o seu rosto. Voltou a olhar pra frente com uma careta, olhou para a esquerda... Nada. Olhou para a direita... Nada.

Só queria uma carona, não importava para onde.