quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Cavalo Manco (Parte II)

Aposta feita. Mesmo com o velho homem que recebe as apostas me dando um daqueles olhares que cortam o coração eu coloquei meu dinheiro no Cavalo Manco. Fui forte, enfrentei a tudo e todos, me disfarcei, ainda me disfarço. Só me revelo quando eu puder esfregar na cara daqueles que me disseram o contrário o quão certo eu estava. Subo correndo as arquibancadas. O páreo começou bem mais cedo do que eu esperava. Subo correndo, tentando disfarçar uma indiferença inexistente. Cada gesto de maior alvoroço da platéia me faz olhar para a pista intrigado, querendo saber se já estão rolando os dados. Corro, corro para o ponto mais alto, quero que as pessoas vejam o vencedor. Esbarro em muitos, esbarro e passo por cima de tantos que não vejo o que está na minha cara. O que estava claro o tempo todo para todas as pessoas que tentaram me ajudar. Cá estou. Mais uma vez ofegante. Um misto de adrenalina da corrida com a estafa física de subir isso tudo correndo e sozinho. Tiro meu chapéu ridículo, abro o sobretudo. Nervoso, afoito. “É agora!” Repito para mim em voz baixa vendo os cavalos chegando. Tiro meu bilhete que comprova a aposta, seguro na frente do rosto quase beijando-o. Pareço um personagem de filme. Esperando a grande vitória. É a chance da minha vida. Tudo pode mudar se eu ganhar. Procuro com os olhos meu Cavalo. Estranho, não o vejo. Olho para as baias onde os cavalos ficam, uma está vazia. Congelo. Minha boca fica entreaberta, surpreso. Olho para o lado, chamo a atenção de um homem.

- Com licença. Onde está este Cavalo?

Aponto para o meu bilhete. O homem lê e franze o rosto.

- Ora bolas, você não ouviu? Ele não vai correr.

E então o homem se vira, rindo da minha cara. Fico atônito. O bilhete de apostas escorrega por entre meus dedos e é levado com o vento. Meus ombros caem. Estranho. Meu coração não bate com tanta velocidade. O nó preso no meu peito é quase inexistente. Abaixo a cabeça. Pego meu chapéu e o olho. Suspiro. Enquanto eu recebo o impacto de ter apostado tudo em um Cavalo Manco, que nem correr iria mais, nem percebo o tiro de largada. Os cavalos correm. A multidão grita. Mas tudo é silêncio. O mundo entrou em “Mute” durante aquela corrida. Meus olhos desacreditados se viram para a pista a ponto de pegar o final da corrida. Dane-se qual cavalo ganhou. Eu vou embora. E me coloco a descer as escadas. Durante a descida o mundo voltou a ter som. E ouço alguém falar.

- Como? Ganhei de novo? Ah... Deixa para lá.

Olho na direção e vejo ele. Um homem, alto, bem apessoado. Cheio de jóias e colares e usando roupas caras no seu camarote cheio de pessoas e coisas caras. Não posso evitar de soltar um riso irônico. Sinto uma mão no meu ombro. Olho para o lado com aquele sorriso triste e olhos marejados. Meu amigo, aquele que enganei dizendo que iria comprar pão. Eu sabia que ele não ia pescar essa. Ele me seguiu. Sabia o que eu estava fazendo. Mas não me impediu. Tomo o ar e abro a boca para falar alguma coisa. Ele faz sinal para que eu fique calado. Me da um forte abraço e diz: “ Calma, eu te ajudo a conseguir tudo o que você perdeu de volta”. Eu abraço ele de volta, transtornado com o fato de que o prêmio que aquele homem recebeu não quer dizer nada para ele. A vida dele com ou sem o prêmio seria a mesma coisa. Mas a minha seria tão diferente. Me desfaço do abraço devagar e vou saindo da casa de apostas ao lado do meu amigo, com o mesmo sorriso triste, porém mais feliz. Olho por cima do ombro e lá está o velhinho que tentou me ajudar. Ele encolhe os ombros com um leve sorriso no rosto, como quem diz: “Acontece” Eu apenas alargo meu sorriso e pisco para ele, como quem diz:

“Eu ainda volto para apostar no cavalo certo.”

7 comentários:

Anônimo disse...

PUTA QUE PARIU!!!
isso é foda!!
como vc consegue! colocar todos os gestos e gostos e sentidos numa historia que no final o amigo, aquele mesmo do pão, e que muitas vezes te disse que o cavalo era manco mas que valia a pena, continua te amando e desejando sorte para que tenhas mais sucesso no amor do que no jogo...

Anônimo disse...

Gostei do amigo.... ^^

Mas não tenho mt a dizer... :S

Bjos e nos vemos nos jogos da faculdade

Anônimo disse...

Nao vou perguntar nomes! hahahaha

mto bom o texto! mandou!!

abraços

Anônimo disse...

Very nice, very nice.

Mas, querido.
Não tem cavalo.

Unknown disse...

Oie Akino
tudo bom?
nossa, o blog ta muito legal
cavalo manco 2, haja criatividade pra inventar uma historia tao sinistra...
^^
bjao =)

Julia Wiltgen disse...

muito bom, akino!!!
tá de parabéns!!!
os textos do cavalo manco tão fodas!!!! vc tá cada dia melhor nisso!!! bjusssss!!!

Anônimo disse...

Gostei kino, agora ja entendo o texto viu ahuaha

mas serio, achei mt bom mesmo!continua escrevendo vai...huahaua

bjoss