quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

A Porta.

Estavam os dois parados. Olhavam para a porta fechada, um ao lado do outro. A porta estava presa a uma parede antiga, pintada de branco, que hoje mais parecia um bege de tanta sujeira. A porta era grande, de madeira maciça com entalhes bonitos e uma grande maçaneta dourada. Tudo coberto com uma grossa camada de poeira.

De um lado estava Ele, com uma calça jeans, uma camisa branca surrada barba por fazer e um rosto cansado.
Do outro, Ele Mesmo, vestindo calça jeans, uma camisa colorida, um chapéu de cowboy e um charuto no canto da boca.

- Tem certeza que está aí ?! – Perguntou Ele Mesmo.

- Claro que tenho. Me lembro muito bem de ter fechado essa porta correndo. – Falou Ele, enquanto cutucava a parte interna da bochecha com a língua.

-Bom... – Coçou o nariz – Realmente parece que essa porta não abre tem um tempo... Você nunca mais abriu ?! – Olhou para ele com o olhar indagador, segurando o charuto entre os dentes enquanto deslizava a palma da mão pela porta, procurando sentir a textura da madeira e deixando as marcas da mão, passando pela poeira.

- Claro que não... Eu já disse. Você não faz idéia do tamanho da coisa que tem aí dentro. É enorme... O máximo que eu fiz foi encostar a orelha na porta, mas eu juro que ouvi a coisa rugir e então, saí de perto... – Ele falava com bastante receio e o arrepio nos pelos do braço revelava que era a verdade.

O outro gargalhou.

- Mas você é uma vergonha mesmo... – Segurou o charuto entre o polegar e o indicador enquanto balançava a cabeça negativamente. Parecia estar se divertindo – Aposto... Que não é nada de mais.... – apontou para a porta com o charuto.

- Isso, vai rindo... Aquilo não correu atrás de você, não é?! – Ele parecia contrariado. Seu companheiro estava fazendo pouco caso de algo que aparentemente para ele era grande.

- Oras, é muito simples, meu caro Watson... Se você tivesse saindo correndo, teria deixado a luz a acesa... – Apontou, mais uma vez com o charuto, a fresta entre a porta e o chão. Estava escura.

- Erm... É que eu sou ambientalmente correto ?! –Falou sem muita convicção.

- Que seja... Agora chegou a hora... – Prendeu mais uma vez o charuto com os dentes, largou a mochila no chão, revirou lá dentro até puxar uma lanterna. Apertou o botão, mas ela não acendeu. Franziu o rosto, deu uns tapinhas na lanterna até a luz aparecer. Sorriu levemente, ofereceu a lanterna para Ele e piscou – Vamos descobrir a verdade, Indiana Jones ?

Ele pegou a lanterna um tanto quanto hesitante. – Você não vem?!

-Eu ?! Tá maluco ?! E eu lá quero ser devorado ?! Boa sorte ! - Tocou de leve na aba do chapéu, como um cowboy que se despede, sorriu com o charuto preso entre os dentes e ficou esperando Ele ir.

Ele por sua vez respirou fundo, se virou para a porta, colocou a mão na maçaneta e girou.
– Seja o que for pra ser...

Entrou.