sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Cavalo Manco.

Ando meio abaixado, sorrateiro na calada da noite. Olho para os lados com aquela cara de um imbecil que se acha malandro, crente que ninguém está o vendo, que está incógnito no meio da multidão. Mordo o lábio inferior, passa um conhecido e acena. Eu aceno de volta. Ele pára para conversar comigo. Maldição. Me pergunta as coisas de praxe, como estou, e minha família, estudos e essas coisas. Mas ele olha para a minha roupa. Um sobretudo digno de um filme Noir e um chapéu estilo Investigador-dos-anos-20. Ele me pergunta onde eu vou. Olho para os lados, pessoas andando em pleno Rio de Janeiro, 2007. Calças jeans, bermudas, camisetas... E eu daquele jeito. Desconverso.

- Estou indo comprar Pão.

Ele me olha de lado. E eu sorrio amarelo, convencido de que enganei ele. Ele suspira. Me conhece bem de mais. Sabe que eu estou fazendo a coisa errada. Mas não me questiona. Apenas se despede e caminha na direção oposta a minha. Essa foi por pouco. Continuo meu caminho, olhando para trás a todo o momento, olhando para os lados, quando vejo um policial, mudo meu caminho. Atravesso ruas. Caminho apressado. Cabeça baixa, cruzo os braços apertado. Esbarro nas pessoas e mando um pedido de desculpas mastigado, emburrado. Tentando passar desapercebido. E ao longe, vejo meu objetivo. A casa de apostas. Apresso os passos. Todos, menos eu, sabem que eu faço papel de ridículo. E quando tento disfarçar provavelmente se sentem ofendidos. Mas eu insisto na mentira. Quero enganar a todos, até a mim mesmo. E o pior, acredito piamente que consigo. O frio na barriga aumenta, cada passo que eu dou para mais perto da cabine de apostas multiplica minhas batidas do coração por 10. Ofegante, tiro minhas economias do bolso.

- Tudo isso, Naquele ali.

Aponto um nome no letreiro. O Velho que recebe as apostas arregala os olhos, olha para tudo o que dei para ele, suspira e toca a minha mão como se fosse um Avô dando conselho para um neto

- Meu Filho, você está apostando tudo num Cavalo Manco.

Sorrio para ele, sem jeito. Alguém tinha que saber.

- Eu sei, Senhor. Mas é mais forte que eu.

sábado, 22 de setembro de 2007

Citação.

Madrugada. Realmente chego a conclusão de que não tem hora melhor para ter idéias boas para escrever do que essa. Momento introspectivo. Geralmente estamos sozinhos, e temos mais tempo para pensar. Passeando pela internet, olhando coisas antigas que as vezes eu gosto de tirar do baú, só para dar uma refrescada na memória e as vezes me surpreender com a qualidade delas, achei um texto. Em um blog de um trio de amigos, que admito, foram minha inspiração para tentar embarcar na escrita um pouco mais rebuscada. Encaro o texto, lendo as linhas e sorrindo de leve.

- Hm... Traduz, não?

Ele tem razão.

- É verdade. Cabe na minha realidade. Muito bem.

Ensaio um copiar e colar.

- Posta isso. E credita ao rapaz.

Mas é claro que sim.

- Sim. Vou perguntar amanhã se posso e coloco assim que souber da resposta.

E a primeira coisa que eu fiz quando encontrei o autor do texto na internet foi pedir autorização dele. Ele, como bom amigo que é, aceitou prontamente. Agradeço a ele por essa chance.



Lunar

Como nunca tive chance de errar, muitas vezes fui herói. Travei as mais tensas batalhas contra os monstros mais sinistros que minha mente pôde imaginar. E em todas, ganhei.
A história é escrita pelos vencedores, e cá estou.
Venci dúzias, demônios e dragões. Em meus devaneios de luta perfeita, cada golpe era certeiro e cada gesto funcional. Mas não foi assim que me consagrei vencedor.
Também não ganhei por ser mais forte:
Provei minha força sempre que pude, mas deixei expostos os pontos fracos.
Nem tampouco ganhei por sabedoria. Perdido em minhas verdades, passei por louco. Nunca fui mais esperto; fui mais ágil. E talvez só isso.
E nessas lutas, muitas vezes me senti perdendo os braços, mas nunca a vida. Saía consolado com meus hematomas e perdas, me lembrando das feridas que eu mesmo e minha espada teríamos causado.
Luto enquanto todos festejam e tento alertá-los do perigo!
Mas nem por isso ganhei, ainda.
Começo então a questionar minha força.
E não sou herói de mim mesmo, sou dos outros.
Se um dia eu resolver desistir, quantos vão ficar desamparados?
Será que interfiro em um caminho que leva a algo melhor?
Luto! mas ameaço me recolher. E se então o mundo ficar a salvo, que assim seja.
Não é essa a minha causa, afinal?

E então eu venço; por cansaço. Venço por causar exaustão!
Venço por desistência.
E na luta lenta que armo, me perco no tempo.
Às vezes eu olho e vejo as princesas correndo, desistiram de me esperar.
E então eu luto a toa com o dragão.


Autor: Guilherme Ripper.
Fonte: http://www.perfect-high.blogger.com.br/ (Eu recomendo!)

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Egoísmo.

- Não… Não… E NÃO!! Hoje não.

Deixo me tomar por instintos.

- Para de palhaçada! Você sabe muito bem que isso é errado

É... Eu sei.

- E daí? Não quero raciocinar! Não quero ponderar nem colocar na balança.

Não mesmo.

- Ah... Vai dar ataque e sustentar esse sentimento escroto dentro de você?

Babaca.

- Não enche.

Cara chato.

- Para de chorar e coloca a cabeça no lugar, Imbecil!
...

Ah! O Ser humano. O único ser vivo que é tão egoísta, mas tão egoísta, que para poupar si mesmo, mata, a si mesmo. Entendem a lógica do raciocínio? Não? Paciência. Não to afim de explicar. Sabe aquela má vontade que mesmo você entendendo o lado de todo mundo você ainda sim não abre mão do seu ponto de vista? É! Egoísmo mesmo. Fazer o que? Eu sou humano.

- Não use muletas para perder a cabeça! Assuma!

Lá vem.

- Assumo mesmo. ESTOU EGOÍSTA!

Pronto.

- Está? Ô palhaço. Ou você é ou não é...

Ma que desgraçado.

- Escuta aqui amigo. Hoje eu não to afim de pensar. Quer mesmo arrumar uma confusão?

Vou ver se ele fica quieto.

- Cara, se eu arrumar confusão com você sem pensar, eu vou acabar com você. Vai dormir.

Huh?

- ....?

Huh?

- É... Isso mesmo. Você vem com toda essa ladainha de dominação por instintos, que o
ser humano é egoísta na sua essência. Se você tem essa clareza, deveria ter o diferencial para não cair na mediocridade.

Deus... O que eu fiz?

- ....!!

Olho para o lado, evitando contato visual com o espelho.

- Toma um banho, come alguma coisa, pega o carro e xinga um taxista... E volta com a sua cabeça pro lugar. Vai jogar tudo pro alto assim? Sem pensar? Vai, faz isso, seu MEDÍOCRE... Você é só mais um mesmo. Não sei o que eu fiz para ficar grudado à uma pessoa tão fraca quanto você.

Meu olhar abaixa. Envergonhado.

-....

Não quero nem olhar no espelho.

- Ta vendo cara. Sem sua consciência, você não é nada. Nem brigamos e eu já acabei com você. Bota a cabeça no lugar. Faz a sua parte. O que vier, veio. Pelo menos você fez o seu.

O tom dessa última frase, soou com um conselho amigo. Quase pude sentir os dedos bagunçando meus cabelos como quem fala com uma criança. Dando uma ajuda.

- ... !

Solto um longo suspiro.

Esse mês foi diferente. Mudanças, experimentos, coisas novas em geral. Até mesmo hoje, deparei com um sentimento que eu achei que tinha conseguido dominar. Mas é isso. Talvez essa onde de mudanças bruscas tenha mexido comigo. Mais do que eu pensava.
Termino com uma frase de uma música. Só pra variar.
“Não sabemos para onde vamos, mas sabemos que temos que ir”